A crise tem nos obrigado a apertar cada vez mais o orçamento, o que não quer dizer que tenhamos que cortar aquela tão sonhada viagem. Na verdade, é justamente o contrário: fazer intercâmbio pode ser uma boa saída para fugir da crise, pois é a sua oportunidade de melhorar o currículo e ainda se inserir na economia de um país que esteja mais estável do que o Brasil. Se não acredita em mim, talvez alguns dados te convençam...
A despeito da crise, a procura por cursos de graduação no exterior aumentou 600% entre janeiro e julho de 2015, em relação ao mesmo período de 2014. Sim, 600%! Isso que no ano passado os números não foram baixos: mais de 232 mil brasileiros foram estudar fora. Esses dados são da Belta - Brazilian Educational Language Travel Association, entidade que reúne as principais agências de intercâmbio do país.
Por incrível que pareça, a crise trouxe algumas vantagens em relação às viagens. As companhias aéreas perceberam que as pessoas estão economizando ao máximo e fizeram uma verdadeira enxurrada de promoções desde o início desse ano. O site Melhores Destinos nunca anunciou tantas ofertas irresistíveis! Só pra você ter uma ideia, a passagem da China que paguei quase R$4500 em 2013, está saindo na faixa dos R$3000. Várias agências de viagens também estão dando descontos em pacotes e até congelando o câmbio do dólar a incríveis R$2,99, enquanto o preço atual do dólar de turismo está em torno dos R$4,10.
Park City, a cidade que escolhi para fazer meu intercâmbio de trabalho nos Estados Unidos |
A partir do momento em que a ida já não é mais uma dúvida, a principal questão é para onde ir ou qual é o melhor lugar para fazer intercâmbio durante a crise?
Sei que é chato ouvir/ler isso, mas tenho que dizer que esse melhor lugar não existe. A opção perfeita vai ser aquela que for mais adequada para você, de acordo com seus objetivos e sua condição financeira. Identificar o lugar ideal não é a coisa mais fácil do mundo, mas é uma escolha um tanto quanto lógica.
Separei aqui embaixo alguns fatores que vão te ajudar bastante a decidir para onde ir. Como estamos em tempos de crise, vou focar na questão financeira.
Países onde os brasileiros mais fazem intercâmbio
Durante muitos anos os Estados Unidos reinaram como o queridinho dos brasileiros, porém, principalmente devido à alta do dólar, as coisas estão mudando. Esse artigo do R7 informa que "No primeiro trimestre deste ano, as nações e cidades mais procuradas para aprender inglês foram Malta, África do Sul (Cidade do Cabo), Canadá (Toronto), Inglaterra (Bristol) e Estados Unidos (Chicago), nessa ordem", enquanto que "no primeiro semestre de 2014, os locais mais procurados haviam sido Canadá (Vancouver), Estados Unidos (Nova York), Estados Unidos (Chicago), Austrália (Sidney) e Inglaterra (Londres)". A Belta afirma que intercâmbios na Nova Zelândia e na África do Sul têm surgido como alternativas aos Estados Unidos e que o interesse pelo Canadá e pela Irlanda continua, porque esses países permitem que os intercambistas trabalhem enquanto estudam.
Se a galera tá escolhendo esses locais, com certeza tem muita coisa boa por lá. Mas isso significa que você deva seguir a manada? Claro que não. Você até pode, se quiser, porém é muito válido analisar outras possibilidades. Caso não abra mão de determinado país, talvez escolher outra cidade ou encurtar o período do intercâmbio sejam boas soluções ;)
Necessidade de comprovação de renda
Vários países exigem que você comprove que tem na conta bancária um valor mínimo para garantir a sua estadia durante os estudos. Na Irlanda, por exemplo, é necessário ter €3.000 (+- R$13.000) para retirar o visto de estudante. Já a Austrália exige AUD$9.300 (+- R$26.000) e a Inglaterra requer £1000 (+- R$5.000) por mês para Londres ou £800 para outras cidades.A boa notícia é que não é assim em todos os lugares... várias nações não exigem comprovação de renda! A China é uma delas, sem nenhuma exigência quanto ao quesito financeiro. Para estudar na Irlanda só com visto de turista, pode cortar aqueles €3.000. Suécia e Noruega dispensam a comprovação de renda para alunos bolsistas. Pesquise alternativas ;)
Permissão para trabalhar
Na maioria dos casos, trabalhar durante o intercâmbio é a única forma de viabilizá-lo financeiramente. Saiba que o visto de estudante pode ou não oferecer permissão de trabalho. Na Irlanda e no Canadá, por exemplo, é permitido trabalhar até 20h semanais durante o período letivo e 40h nas férias ou após a formatura. A Nova Zelândia também oferece ótimas oportunidades de trabalhos para estudantes.Isenção ou facilidade em obter vistos
Talvez você já saiba que nós, brazukas, não precisamos de visto para entrar em várias nações. Isso é muito útil para o turismo, já para estudar a coisa pode complicar um pouco. Em cursos de idiomas com duração de até 3 meses, rola estudar sem visto (somente com o carimbo de entrada como turista) em todos os países da União Europeia e grande parte da América do Sul. Nos Estados Unidos e no Canadá, o tempo de permanência para turistas brasileiros é de até 6 meses.Caso queira fazer high school, graduação ou qualquer outro tipo de especialização e pós, vai precisar do visto de estudante mesmo, para garantir um maior tempo de estadia. É legal analisar quanto tempo o país em questão permite que você fique após formado. O Canadá oferece uma oportunidade incrível: estudando lá por 2 anos, é possível conseguir permissão para ficar lá somente trabalhando por mais 3 anos depois de formado. O melhor é que, se você fizer isso, consegue ser aprovado facilmente para imigração definitiva através do programa Express Entry!
Express Entry, o programa de imigração para o Canadá |
Planejamento dos custos
Essa é a parte mais chata e essencial. Não adianta querer fugir: sim, será preciso fazer planilhas, preencher papéis (ou sei lá como você prefira se organizar) pra estimar quanto seria necessário para cada opção de intercâmbio. Só assim você poderá comparar, incluir outros critérios e então fazer uma escolha bem consciente. Esses são os custos principais, sendo que é possível eliminar alguns deles:
- Agência: é uma das primeiras coisas que vêm à mente quando pensamos em intercâmbio. Pois saiba que nem sempre é necessário ter uma agência intermediando tudo, o que significa uma bela economia. Yeey! Eu fiz um intercâmbio para a China e contratei uma empresa apenas para facilitar a emissão do visto, mas poderia ter feito sem eles se quisesse. A Fernanda do Vou Pra Califórnia também foi (pra Califórnia, claro) sem pagar agência e ainda conseguiu estudar inglês de graça. Mesmo assim, é sempre recomendável conversar com algumas agências, ver o que elas têm a oferecer e aproveitar pra se informar com elas sobre os países, as possibilidades oferecidas, como se preparar e tal. Quem é mais inseguro e prefere contratar uma agência, deve pesquisar várias alternativas sem se limitar à sua cidade, pois muitas empresas prestam um serviço excelente e 100% online.
- Escola / universidade: de novo, se a agência for eliminada, a escola fica mais barata. Por dois motivos óbvios: 1º porque você não vai estar pagando nenhuma comissão e 2º porque a agência não tem muito interesse em pesquisar as instituições mais baratas para te indicar. Algumas escolas públicas oferecem o ensino de línguas gratuitamente para estrangeiros, como no caso da Fernanda. Já no âmbito de faculdades, a Noruega dispõe de diversas opções para brasileiros fazerem o ensino superior de graça. Muitas universidades também dão bolsas e outras formas de descontos que você só vai descobrir pesquisando. Caso escolha uma instituição de ensino sem intermédio de agência, é importante pesquisar bastante quanto à sua confiabilidade e qualidade de ensino.
- Visto: o custo com visto não vai fazer tanta diferença na hora de escolher entre um país ou outro, mas é legal lembrar que ele existe e varia. Para tirar o visto dos Estados Unidos, por exemplo, além de pagar as taxas consulares tive que me deslocar de Floripa à São Paulo. Outras nações permitem que o visto seja feito completamente online ou, como falei anteriormente, há as que nem exigem visto.
Esse carimbo que consegui quando passei na imigração foi tudo o que precisei para estudar na Irlanda... fácil e grátis! |
- Seguro saúde/viagem: na mesma linha do visto - não vai pesar tanto na escolha do destino, mas existe e varia. Alguns países requerem seguros com coberturas maiores, outros menores e outros simplesmente não exigem nada.
- Passagem aérea: sei bem que o preço de passagens para lugares mais distantes como a Nova Zelândia pode assustar. No entanto, se as oportunidades de trabalho forem melhores ou se os gastos com moradia, transporte e lazer forem muito menores nesses locais, o investimento maior na passagem é compensado. Além disso, separei aqui algumas dicas de como comprar passagem aérea barata.
- Hospedagem: normalmente tentam nos empurrar casa de família ou moradia estudantil no intercâmbio, né? De forma alguma essas são as únicas opções. Nesse artigo sobre o meu intercâmbio na Irlanda, conto como consegui hospedagem mais barata e quantos euros economizei. Lá também levanto preços de seguro, passagem aérea e alimentação para Dublin.
- Alimentação, energia elétrica, água, internet: compare esses custos por cidade através de sites como o Expatistan.
- Viagens: seja realista! Se você sabe que não vai se contentar em ficar apenas na cidade onde pretende fazer o intercâmbio, já inclua as viagens no orçamento para ter uma noção do que vai sair mais caro no final das contas. Não adianta escolher uma cidade barata na Europa e querer ficar passeando em Londres e Paris. Já na África do Sul, é possível explorar o continente gastando muito menos. Passagens da Austrália para o Sudeste Asiático lindão também rendem viagens inesquecíveis por ótimos preços.
El Nido, o pedacinho das Filipinas que conquistou meu coração! |
- Outros gastos embutidos no intercâmbio para fazer uma especialização no exterior geralmente incluem a tradução juramentada dos documentos da graduação (diploma, histórico e programa das disciplinas), além de testes de proficiência em idiomas como o IELTS e TOEFL, que custam mais de R$500 cada um.
Análise das características gerais de cada país
Quem vai fazer um intercâmbio de até 6 meses não precisa se preocupar muito com isso. Porém, os intercambistas que pretendem morar fora por períodos mais longos devem considerar algumas características que podem ajudar ou prejudicar na adaptação ao local. As principais são o clima, a alimentação, a cultura em geral, leis que possam interferir no dia-a-dia e até mesmo a localização geográfica.
À primeira vista, tudo que é oposto à nossa terra pode parecer atrativo. Só que quando as diferenças são gritantes e você precisa conviver com elas por um longo período, pode ser bem desgastante. Quando morei na China (por quase 2 anos!), um dos principais problemas era a questão geográfica. As 11 horas adiantadas no fuso horário faziam com que a comunicação com a família e os amigos do Brasil fosse extremamente difícil. Quando apertava a saudade, ou mesmo no caso de emergências, era muito complicado fazer um bate-volta: além da passagem ser cara, os 3 aviões e as conexões somavam fácil mais de 20 horas só no trajeto Brasil-China. Para o caminho inverso, eram pelo menos 30 horas por causa do fuso. Pense nessas questões quando for escolher um novo lar.
Idioma
Intercâmbios para aprender novas línguas são bem flexíveis quanto ao local. A melhor dica para economizar é fazer uma lista de todos os países que falam aquela língua e ir eliminando um a um. Claro que os mais famosos tendem a ser os mais caros... Considere também que o sotaque pode mudar bastante, como ocorre no português daqui e no de Portugal; no inglês americano ou australiano; no espanhol da Espanha ou da América Latina e por aí vai. Mas não se desespere, porque no fim todo mundo se entende.
Para quem já tem um nível razoável em um idioma que deseja aperfeiçoar, o ideal é aproveitar o intercâmbio triplamente: se o seu inglês é intermediário, você pode tentar um técnico ou uma especialização que seja ministrada nesse idioma mas sediada em um país com uma língua diferente. Espanha e China, por exemplo, oferecem vários cursos integralmente em inglês. Assim dá pra melhorar o inglês, adquirir habilidades profissionais em uma área específica e ainda "ganhar" um espanhol ou mandarim de brinde. Show, né?!
Com certeza ainda há muito mais coisas que você precisa saber antes de escolher onde fazer seu intercâmbio, mas espero ter ajudado! Podemos encarar a crise como um "belo" lembrete de que saber economizar e buscar alternativas, tanto em viagens quanto em qualquer âmbito da vida, é indiscutivelmente importante.
Se você curtiu esse post ou se ficou com alguma dúvida, comente aqui embaixo! Escrever só é gostoso quando sabemos o que o leitor achou :) E, claro, não esqueça de compartilhar esse post com aquele amigo que pretende fazer intercâmbio.
Abraços e boas viagens para nós!
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Com o que eu trabalhei na China
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